Como conversar e acolher alguém em sofrimento

Quando pessoas estão em sofrimento, frequentemente é possível perceber sinais físicos e comportamentais ou mudanças emocionais que demonstram que aquela pessoa não está bem. Quando isso acontecer, você pode criar uma conexão que permita oferecer ajuda. Você não precisa assumir o lugar de terapeuta, nem se aprofundar nos problemas pessoais da pessoa. Você só precisa demonstrar cuidado e indicar que a pessoa pode e deve procurar ajuda.

Seja discreto

Não é legal questionar qualquer pessoa sobre sua saúde mental em público. Encontre um local privado para conversar. Isso vai aumentar a probabilidade de que o estudante se sinta a vontade para compartilhar sua dificuldade, se houver. E não faça promessas de confidencialidade, pode ser que você precise pedir ajuda para garantir a saúde e segurança da pessoa.

Expresse preocupação e cuidado

Saber que alguém se importa faz a diferença. Ofereça água, fale que percebeu que a pessoa está diferente e dê espaço para a pessoa falar sobre.

Escute ativa e reflexivamente

Dê sinal que você compreende o que está ouvindo, seja balançando a cabeça ou dizendo humrhum. Se não entendeu algo, pergunte. Devolva para a pessoa o que você entendeu daquilo que ouviu.

Uma estratégia interessante é parafrasear, repetindo com outras palavras o que a pessoa falou, fazendo uma afirmação ou perguntando ao final se é isso mesmo. Essa estratégia ajuda a construir empatia fazendo a pessoa saber que está sendo compreendida. É uma ótima estratégia, mas evite seu uso excessivo.

Faça as perguntas certas

Perguntas abertas ajudam você a ter informações mais precisas e permitirá que a pessoa se sinta escutada e direcione a conversa.

  • “Como vai você?”
  • “Nos últimos dias eu notei você … (diferente, triste, agitada, angustiado…), o que está acontecendo?”
  • “Como você se sente sobre o fato de… ?”
  • “Quais problemas isso tem causado para você?”
  • “O que você acha que pode te ajudar com essa questão?”


Perguntas fechadas pedem respostas objetivas e permitem a tomada de decisões e/ou o devido encaminhamento

  • “Você está disposto a procurar ajuda?”
  • “Você vai procurar ajuda de um profissional/departamento específico?”
  • “Você já sabe qual profissional procurar?”
  • “Você vai procurar conversar com a equipe do departamento… ?”
  • “Quando você pretende fazer isso?”
  • “Você quer a minha ajuda para fazer esse contato?”

Foque nos comportamentos concretos

Compartilhe o que você observou. Ajude a pessoa a entender especificamente o que você está vendo e mostre que você realmente se importa.

Seja positivo

Se você é docente, chefe ou líder dessa pessoa, ser chamado por você para conversar pode ser intimidador. Utilizar um tom positivo ao convidar para uma conversa dará a pessoa um senso de esperança e colaboração. “Vamos tomar um café e bater um papo, eu acho que talvez eu possa te ajudar clarear algumas coisas”

Evite julgamentos

Tente não expressar sua opinião pessoal sobre a demanda que você ouviu da pessoa. Uma demanda pode parecer boba para você, mas para aquela pessoa, que talvez nunca encarou tal situação, não é. Não minimize o problema.
Se for algo prático e você conhece o caminho ou os recursos necessários para resolver, indique o caminho, mostre onde e como conseguir os recursos e deixe que a pessoa caminhe, busque, aprenda e faça seu próprio julgamento.
Se for uma demanda de saúde física ou mental, não tente emitir qualquer diagnóstico. Sua experiência de vida pode lhe dar algumas pistas, mas lembre-se, você não é profissional de saúde.

Fique confortável com o silencio

Algumas pessoas precisam de um pouco mais de tempo para processar respostas sobre assuntos difíceis para elas.

Indique onde encontrar ajuda

O rápido encaminhamento para profissionais de pedagogia, saúde, assistência, ouvidoria ou saúde mental do campus pode ajudar muito as pessoas que precisam de ajuda. Ainda que seja uma questão complexa que você sabe que não pode ser resolvida pelos profissionais do campus, não se preocupe, esses profissionais conhecem os recursos disponíveis na universidade e no município que podem dar o suporte adequado para a pessoa em sua demanda.

Se possível, ofereça informações específicas sobre onde encontrar ajuda na universidade.

  • Saúde física ou mental: DeAS em São Carlos e os DeACEs nos demais campi.
  • Assistência social: DeAE em São Carlos e os DeACEs nos demais campi.
  • Questões Pedagógicas: CAAPE em São Carlos e os DeEGs nos demais campi.

Não sinta-se obrigado a resolver o problema

As questões que levam ao sofrimento frequentemente não são resolvidas de maneira rápida ou simples. Você não é responsável por oferecer uma solução. A coisa mais importante é escutar e tentar entender o que a pessoa está experienciando para então, se possível, você indicar onde se pode encontrar ajuda ou recursos para lidar com a demanda.

Peça consentimento

Se você vai contatar qualquer profissional que você acha que pode ajudar a pessoa, solicite o consentimento. Se a pessoa souber que você conversou com outros sobre ela sem consentimento, mesmo que seja na intenção de ajudar, isso pode quebrar a confiança que foi construída entre vocês.

  • “Posso avisar a profissional X que você vai entrar em contato com ela?”
  • “O que você acha de eu compartilhar com o profissional Y essa informação para ele te ajudar?”

Fonte: MIT Faculty Guide Recognizing and Responding to Students in Distress (link externo)

Texto traduzido e adaptado em setembro de 2023 por Ricardo Oliveira, Psicólogo do DeACE-Ar, então vice coordenador de Coordenadoria de Articulação em Saúde Mental.